As folhas das árvores já caíram há muito e a neve já derreteu, mas não vemos o rio encher.
Ainda não pudemos ver os brotos verdes e nem o sol aquece em demasia.
De tempos em tempos, a solidão arrepia.
A grande noite já se foi e a embriaguez das celebrações em homenagem a Deusa é lembrança fria.
São o 6º ou o 7º mês de gestação...
Sabe aquele momento em que a chuva já parou de cair e as poças começam a secar, mas não o suficiente para pisarmos nelas de botas novas? Todo mundo sabe...
E então o que podemos fazer nessas horas de ansiedade e vazio? Talvez falte aquela energia a mais, a última vela! E o último pranto de tristeza e de alegria, uma mistura de águas e o suor da fronte de quem já se esgotou colhendo a lenha e fazendo o pão. É essa a sétima hora? O que você faz?
Talvez faça como eu, entoe uma canção, chame seu anjo em oração. Porque nenhum ser humano tem alguém do lado nesses tempos. A lamparina tem óleo para algumas noites e a cadeira de embalo já cansou de nos abrigar, e ranger seus ossos no assoalho úmido. O ar é fresco, mas úmido lá fora. E até podemos ver a Grande Mãe tecendo com lã. Ela que tudo sabe, não se abala. O mistério ela conhece... Veja! Ela se levanta! Ela se levanta e vai até a janela...
Sorri. Ela sorriu. Admirada do passeio de um casal de passarinhos? Ou do sol que acorda? Ela nada me diz. Volta para sua velha cadeira e segue tricotando, mas nos seus olhos eu vejo. Ela tece meu amanhã... Suspiro daqui.
De tempos em tempos, até mesmo o suspiro paira imóvel no ar. Até o suspiro fica em suspenso.
(Mariana Estrella 17/06/14)
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